Alteração no atendimento de pacientes do Grupo B de sintomatologia da dengue reduz riscos e aprimora qualidade da assistência
A Atenção Básica tem importante papel a cumprir na prevenção, atenção e controle das doenças, constituindo-se como porta de entrada preferencial do usuário ao Sistema Único de Saúde (SUS). As Unidades Básicas de Saúde (UBS), equipamentos de saúde que por definição são os mais próximos das comunidades, têm importante papel a cumprir como responsáveis pelo atendimento inicial no enfrentamento da dengue, chikungunya, zika e febre amarela, doenças conhecidas como arboviroses.
Pela primeira vez na história de Contagem, pessoas com sintomas de dengue com condições clínicas especiais (*), como hipertensão, diabetes, gestantes e crianças com menos de dois anos, que não apresentam sangramento e outros sinais de alarme, poderão ser atendidas no âmbito da Atenção Básica, sem precisar serem encaminhadas para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). De acordo com o protocolo de risco e manejo de pessoas com sinais de dengue do Ministério da Saúde (MS), os pacientes que apresentam essas condições são classificados no Grupo B de sintomatologia da dengue.
Até o ano passado, todos os pacientes com suspeita de dengue classificados no Grupo B precisavam ser direcionados às UPAs. O motivo é que o nível de atenção primária à saúde, no qual se situam as UBSs, não estava suficientemente estruturado para realizar esse tipo de atendimento, que costuma demandar que os pacientes fiquem em observação enquanto recebem hidratação, oral ou venosa, ou que aguardem até a liberação de resultados de exames.
Agora, a Atenção Básica está em processo de estruturação para acolher esse tipo de paciente, realizando exames como hemograma e contagem de plaquetas, ofertando condições infraestruturais para esse tipo de atendimento e avaliando os usuários não só clinicamente, mas também laboratorialmente.
Para isso, todos os cerca de 150 médicos, 150 enfermeiros e 350 técnicos de enfermagem da Atenção Básica do município estão passando por capacitações para o atendimento de pessoas com sinais de dengue. Os aproximadamente 450 Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) do município, por sua vez, estão sendo orientados a encaminhar os casos suspeitos de arboviroses às UBSs e a atuar junto aos domicílios, informando aos seus moradores sobre as arboviroses, seus sinais, sintomas e riscos de agravamento.
As ações assistenciais da rede SUS/Contagem também estão sendo reorganizadas, de forma que todas as equipes da Atenção Básica realizem o atendimento inicial para dengue, com avaliação de risco e a vigilância do usuário, seja através do acompanhamento dos doentes na residência, seja por meio da detecção de casos em visitas domiciliares e, quando necessário, com o referenciamento para serviços de urgência ou unidades de observação. O objetivo é reduzir os riscos para os pacientes e melhorar a qualidade da assistência ao usuário, ao mesmo tempo em que as UPAs são desafogadas.
A referência técnica do setor de Doenças e Agravos Transmissíveis (DAT) da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Maria Viegas, explica que a medida possibilitará que os pacientes do Grupo B sejam acompanhados, se necessário, pela mesma equipe que realizou o primeiro atendimento, ao passo que, se atendidos em uma UPA, esses pacientes seriam acompanhados por equipes de plantonistas, cujos integrantes podem variar.
“As pessoas das equipes de plantão que fariam esse acompanhamento, caso ele seja preciso, não seriam necessariamente as mesmas. A possibilidade de o acompanhamento ser feito por uma mesma equipe viabiliza um acompanhamento longitudinal, no qual um mesmo avaliador pode acompanhar a pessoa ao longo do tempo. Com isso, o acompanhamento dos pacientes ganha em qualidade. Além disso, nas UPAs, o histórico do atendimento dos pacientes é registrado em fichas de atendimento, mas, se o atendimento é feito no âmbito da Atenção Básica, o histórico é todo registrado nos prontuários, o que possibilita o resgate das informações. Tudo isso melhora a qualidade da assistência ofertada”, afirma a referência técnica do DAT.
(*) Condições clínicas especiais e/ou risco social ou comorbidades: lactentes (menores de dois anos), gestantes, adultos com idade acima de 65 anos, hipertensão arterial ou outras doenças cardiovasculares graves, diabetes mellitus, DPCO, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica, doença ácido péptica e doenças autoimunes. Esses pacientes podem apresentar evolução desfavorável e devem ter acompanhamento diferenciado, e a partir de agora esse acompanhamento pode ser feito em UBSs.
Plano de Enfretamento das Arboviroses reforça importância da identificação de sinais de alarme
O Plano Municipal de Contingência para Enfrentamento das Arboviroses (dengue, chikungunya e zika) 2018/2019 é um documento elaborado pelo Comitê de Arboviroses da SMS, composto pela Vigilância em Saúde (Epidemiologia, Zoonoses e Vigilância Sanitária e em Saúde Ambiental) em conjunto com setores da Saúde como Atenção Básica, Urgência e Emergência, SAMU, Laboratório Central, Apoio Diagnóstico, Assistência Farmacêutica e Complexo Hospitalar. De acordo com o documento, o número de casos de dengue com sinais de alarme e graves identificados é muito pequeno, o que aponta para a importância da realização de exames clínicos iniciais para a identificação e atendimento de casos suspeitos de arboviroses.
“O diagnóstico se inicia no atendimento dos casos e na verificação atenta dos sinais e sintomas, que irão fornecer subsídios para uma correta suspeição e definição das próximas medidas, inclusive de contenção da infestação do vetor. Desta forma, no atendimento de pacientes suspeitos de viroses, há que se pensar em todas as arboviroses e nas diferenças existentes entre as definições de casos suspeitos para cada uma delas. Além disso, no caso de suspeita de febres hemorrágicas, não se pode descartar a possibilidade de outras doenças infecciosas como leptospirose, febre maculosa e leishmaniose. O diagnóstico laboratorial confirmatório é fundamental, mas o manejo do paciente não pode depender dele, assim a identificação de sinais de alarme é fundamental para a imediata implantação das medidas necessárias”, reforça o texto do Plano Municipal de Contingência para Enfrentamento das Arboviroses (dengue, chikungunya e zika) 2018/2019.
Classificação de risco e manejo de pessoas com sinais de dengue do Ministério da Saúde
A classificação do Ministério da Saúde engloba os casos menos graves e sem sinais de alarme, enquadrados nos Grupos A (sem sangramento espontâneo ou induzido, sem condições especiais, sem risco social e sem comorbidades) e B (com sangramento de pele, espontâneo ou induzido ou condição clínica especial, ou risco social, ou comorbidades), e os casos mais graves, enquadrados nos Grupos C (presença de algum sinal de alarme, manifestação hemorrágica presente ou ausente) e D (com sinais de choque; hemorragia grave; disfunção grave de órgãos; manifestação hemorrágica presente ou ausente). Em Contagem, a partir deste ano, os Grupos A e B passam a receber atendimento nas UBSs, com hidratação nas próprias unidades dos casos do Grupo A e B.
Repórter: Carolina Brauer
Foto: Adelcio Ramos Barbosa
Data: 21/02/2019